Steve Jobs Stanford esse é o CARA !

Ícaro, abril – maio 2007.

Não deixem de ter fome, não deixem de ser tolos

Paraninfo em Stanford, o fundador da Apple faz revelações pessoais

Steve Jobs, fundador da Apple, paraninfo dos alunos da universidade norte-americana de Stanford, no Vale do Silício, fala aos formandos sobre a vida e o trabalho, num texto cheio de sensibilidade que correu o mundo pela internet.Estou honrado de estar com vocês em sua formatura, numa das melhores universidades do mundo.Não me formei. No dia de hoje me encontro o mais perto que já cheguei de uma formatura universitária. Quero contar três histórias da minha vida. É isso. Nada mais que isso. Apenas três histórias.A primeira é sobre saber juntas os pontos.Desisti do Reed College depois de seis meses, mas continuei por ali mais 18 meses antes de realmente largar os cursos. Por que caí fora?Tudo começou antes de eu nascer. Minha mãe biológica era uma jovem universitária e solteira. Ela decidiu que eu seria adotado por gente formada da universidade. Assim, tudo estava certo para que eu fosse adotado por um advogado e sua mulher. Só que, quando cheguei, eles decidiram que queriam mesmo uma menina. Meus pais, que estavam numa lista de espera, receberam um telefonema no meio da noite, indagando: "Temos um menino, querem ficar com ele?" "Claro que sim", responderam. Minha mãe biológica descobriu mais tarde que minha mãe adotiva nunca se formou e que meu pai nem tinha completado o segundo grau. Ela se recusou a assinar os documentos finais de adoção. Só cedeu quando meus pais prometeram que, um dia, eu iria a universidade.Dezessete anos depois, fui para a universidade. Ingenuamente, escolhi uma escola quase tão cara quanto Stanford, e todas as economias do trabalho dos meus pais estavam sendo consumidas para pagar meu curso. Após seis meses, achei que aquilo não valia a pena. Não tinha idéia do que desejava fazer nem como a universidade me ajudaria a descobrir meu caminho. Decidi abondonar a escola e confiar que tudo ficaria OK. Na época, tive muito medo. Olhando para trás, foi uma das melhores decisões que já tomei. No minuto em que desisti, pude parar com as aulas programadas, que não me interessavam, e comecei a freqüentar como ouvinte as que me pareciam interessantes.Não era nada romântico. Não tinha nem um quarto, dormia no chão do alojamnto de amigos. Recolhia e vendia latas de Coca-Cola a 5 centavos cada, para comprar comida. Nas noites de domingo, caminhava 7 milhas para conseguir uma boa refeição em um templo hare krishna. Eu amava isso. Seguindo minha curiosidade e intuição, descobri algumas coisas que se mostraram valiosas mais tarde. Um exemplo: o melhor curso de caligrafia era na Reed School. Como não precisava mais freqüentar as aulas regulares, fiz o curso, aprendi sobre serifas, espaçamentos, combinações de letras, tipografia. Era lindo, histórico, artisticamente sutil, de um jeito que a ciência não consegue capturar. Achei fascinante.Não imaginava nenhuma aplicação prática disso, mas dez anos depois, quando projetava o primeiro Macintosh, tudo voltou à minha mente. Foi o primeiro computador com uma linha tipografia. E como o Windows copiou o Mac, é possível que nenhum computador tivesse essa tipografia. Se eu não tivesse largado o curso regular, o Mac não teria múltiplos tipos e fontes com espaços tão bem-proporcionados. Não era possível antever essa aplicação quando eu estava na escola, mas em dez anos tudo parecia claro. Vocês nunca conseguem unir os pontos para o futuro, só olhando para trás. Portanto, é preciso acreditar que os pontos ligados vão conectar você com o futuro. É preciso confiar em alguma coisa: coragem, destino, vida, carma, qualquer coisa.Minha segunda história diz respeito a amor e perda.Tive sorte, descobri cedo o que queria fazer. Meu sócio Woz e eu começamos a Apple na garagem dos meus pais, quando eu tinha 20 anos. Trabalhamos firme e, em dez anos, tínhamos uma empresa de 2 bilhões de dólares e 4 mil empregados. Havíamos lançado a nossamelhor criação, o Macintosh, um ano antes, e eu acabara de completar 30 anos. Então fui despedido. Como você pode ser despedido de uma empresa que você mesmo criou? Com o crescimento da Apple, nós contratamos alguém que acreditei ser talentoso para tocar a empresa comigo, e no primeiro ano tudo correu bem. Mas as nossas visões de futuro começaram a divergir e nós rompemos. O conselho diretor ficou com ele. Eu tinha 30 anos e estava fora, com toda a imprensa divulgando o fato. O que tinha sido o foco de toda a minha vida de adulto acabara. Foi devastador. Por alguns meses, não sabia o que fazer. Mas ainda amava o que fazia. Tinha sido rejeitado, mas ainda tinha amor. Decidi começar de novo.Ser despedido da Apple foi a melhor coisa que me aconteceu, embora eu não soubesse disso na época. O peso de ser bem sucedido foi substituído pela leveza de ser um principiante de novo. Fiquei livre para entrar num dos períodos mais criativos da minha vida.Nos cinco anos seguintes, comecei a NeXT, a Pixar e me apaixonei pela minha mulher, Laurene, com quem me casaria e constituiria uma linda família. A Pixar criou o primeiro desenho animado por computador, Toy Story. É o estúdio de animação de maior sucesso no mundo.A Apple comprou a NeXT, e eu voltei para lá. A NeXT é responsável pelo atual renascimento da Apple, que não teria acontecido se eu não tivesse sido despedido.O gosto do remédio foi horrível, mas o paciente precisava dele. Às vezes, a vida dá uma tijolada na cabeça da gente. Não percam a fé. O que me fez prosseguir foi amar o que eu fazia. Se vocês não descobriram ainda qual o trabalho que amam fazer, procurem. Não relaxem. Vocês vão saber quando o encontrarem, como acontece com as coisas do coração. A terceira história é sobre a morte.Quando tinha 17 anos, li uma frase assim: "Se você viver cada dia como se fosse o último, um dia você estará certo". Nos últimos 33 anos, olhava para o espelho toda manhã, perguntando a mim mesmo: "Se hoje fosse o último dia de minha vida, gostaria de fazer o que farei hoje?" Sempre que a resposta era "não" por alguns dias seguidos, sabia que precisava mudar algo. Porque quase tudo – expectativas externas, orgulho, medo do fracasso – desaparece em face da morte, ficando apenas o que é realmente importante.Lembrar da morte é o melhor meio de evitar a armadilha de que você tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir seu coração.Um ano atrás, fui diagnosticado com câncer. Tinha um exame às 7 e meia da manhã, que revelou um tumor no pâncreas. E eu nem sabia o que era o pâncreas. Os doutores me disseram ser quase certo que se tratava de um tipo de câncer incurável e que eu só viveria de três a seis meses mais. O médico disse para eu ir para casa e pôr minhas coisas em ordem, ou seja, preparar-me para morrer. Isso significava que eu teria de conversar com as crianças, em poucos meses, tudo o que eu pretendia dizer nos dez anos seguintes. Vivi o dia inteiro com esse diagnóstico. No fim da tarde, fiz uma biópsia, que acabou por indicar um tipo raro e curável de tumor. Fiz uma cirurgia que deu certo e agora estou bem.Ninguém quer morrer. Mesmo quem quer ir para céu não quer morrer para chegar lá. No entanto, a morte é o destino comum a todos nós. Ninguém escapa dela. Assim deve ser, já que a Morte é a melhor invenção da Vida. É o agente de mudança da Vida. Elimina o velho para abrir caminho ao novo. Hoje o novo são vocês, mas, num dia não muito distante, vocês vão se tornar gradualmente velhos e também serão eliminados. Desculpe a dramaticidade, mas é verdade.Seu tempo é limitado, portanto não o desperdicem vivendo a vida de outra pessoa. Não deixem o ruído da opinião de outras pessoas sufocar sua voz interior. E, mais importante, tenham a coragem de seguir sua intuição e seu coração.Quando eu era jovem, havia uma publicação interessante chamada O Catálogo de Toda a Terra, uma das bíblias da minha geração.Na última capa da sua edição final, em meados de 1970, havia a fotografia de uma estrada do interior, tirada de manhã cedo. Sob a foto, as palavras: "Não deixem de ter fome. Não deixem de ser tolos".Sempre desejei isso para mim mesmo. E agora, quando vocês, agora formados, começam uma vida nova, é o que lhes desejo: "Não deixem de ter fome. Não deixem de ser tolos".

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