A SAGA CHEGA AO FIM ...
A saga do bruxo chega ao fim com tudo que estava previsto: morte do vilão, vitória do herói e - claro - pirataria na internet
Luís Antônio Giron.
Um visionário do mundo digital costumava dizer que toda tecnologia revolucionária, quando vista pela primeira vez, parece mágica. Paradoxalmente, nas aventuras do bruxo infantil Harry Potter, os magos não conhecem computadores nem as tecnologias digitais da vida contemporânea. O universo da escritora inglesa J.K. Rowling pertence ao final do século passado, quando internet e celular não estavam tão disseminados como hoje. Talvez em parte por causa disso, para lançar o último volume da série Harry Potter, as editoras Bloomsbury, da Inglaterra, e Scholastic armaram uma operação de marketing também digna do século passado, baseada no suspense. E esqueceram o mundo digital. Como se ainda pudessem prender livros em caixas com palavras mágicas, marcaram para a meia-noite do sábado 21 de julho, horário de Londres, o lançamento de Harry Potter and the Deathly Hallows (Harry Potter e as Relíquias da Morte), sétimo e último volume da série. Aconteceu o previsível: o tão protegido e esperado final da saga de Harry Potter vazou por causa de um feitiço talvez mais poderoso que os ensinados pelos magos Dumbledore e Snape juntos: a internet. O passe de mágica atende pelo nome "BitTorrent". Trata-se de um popular programa de troca e compartilhamento de arquivos. Nele e em sites semelhantes, circularam na noite da segunda-feira 15 fotografias de 784 páginas da edição americana. Em algumas imagens, via-se a unha pintada de rosa de um polegar. Em poucos minutos, os desmancha-prazeres enchiam a blogosfera com respostas falsas e verdadeiras aos derradeiros mistérios sobre Harry em sua luta contra as trevas. Ambas as editoras não negaram nem confirmaram a veracidade da cópia, divulgada em primeira mão pelo site de ÉPOCA antes mesmo que jornais como o americano New York Times tivessem se dado conta. A Bloomsbury e a Scholastic anunciaram medidas legais contra os violadores dos direitos autorais. Ninguém sabe ainda quem é o autor das fotografias.A tiragem inicial de cerca de 20 milhões de exemplares - 2 milhões encomendados, tornando Deathly Hallows o maior best-seller do ano por antecipação - foi enviada para livrarias de todo o mundo, com o compromisso de abrir no horário combinado. Uma distribuidora americanas, Levy Home Entertainment, entregou centenas de exemplares encomendados. Um dos usuários deve ter fotografado o volume às pressas. Da câmera para a internet, passaram-se minutos.É pouco provável que a versão do BitTorrent seja forjada. Ao longo da narrativa, Harry empreende a Guerra de Hogwarts contra os Comensais da Morte, encabeçados pelo vilão Voldemort e, à medida que se desenrola a ação, todos os segredos são desvendados. Num duelo com Voldemort, o protagonista se vê à beira da morte. Então se descortina a surpresa final, prometida por J.K. Rowling. Como seria previsível na estrutura de um romance clássico, seguida por ela.É impraticável manter o sigilo depois que os textos migraram do papel para o mundo digitalCaso você queira evitar conhecer segredos antes de terminar o livro, salte este parágrafo. Eram quatro os enigmas que vinham sendo lançados aos leitores desde o início da série. Harry Potter consegue vencer o Lorde das Trevas Voldemort? Que personagens morreriam no último volume? De que lado estaria o professor Snape: seria um membro dos Comensais da Morte ou amigo dos bruxos do bem? E o destino de Ron e Hermione, amigos de Harry? Eis as respostas. Na batalha, Harry conta com a ajuda de magos mais poderosos, que matam Voldemort. Antes, porém, o Lorde das Trevas aniquila Snape, que, na verdade, era um espião infiltrado, a serviço do bruxo do bem, Dumbledore. No epílogo, 19 anos depois, Harry está com 37 anos, casado com a colega Gina e tem três filhos: James, Albus Severus (nome que homenageia Albus Dumbledore e Severus Snape) e Lily. James estuda na escola de bruxaria de Hogwarts. A família está na estação de King's Cross, para se despedir de Albus, que tomará o trem rumo a Hogwarts. Topa, então, com Hermione e Ron, casados e pais da menina Rose, que também vai embarcar. A cicatriz que Harry traz na testa desde bebê não dói mais. Os finais de livro são importantes, mas não essenciais. A saga pode ser lida como uma alegoria da formação da escritora. E de outras infinitas maneiras. A série de J.K. Rowling ficará na literatura infantil e de fantasia. E sua publicação traz outra lição, utilíssima nos dias de hoje: é impraticável manter o sigilo de um livro com milhões de cópias depois que os textos migraram do papel para o mundo digital. Em vez de processar os responsáveis pela violação de direitos, as editoras da obra poderiam ter pensado em um uso mais inteligente da internet. É assim que o cinema opera hoje. Filmes como Star Wars ou Homem-Aranha não guardam mistérios de trama, e sim sobre a forma como ela é narrada. Talvez esse projeto de sigilo tenha ruído pela própria concepção mercadológica de Harry.A série é um produto do século XX. Mesmo as crianças que se iniciaram na leitura com os livros cresceram e agora têm acesso à tecnologia. Hoje não há mais "trouxas" (muggles, desprovidos de dotes mágicos). Os "trouxas" de hoje possuem superpoderes digitais de fazer inveja aos antigos meninos de Hogwarts.
Luís Antônio Giron.
Um visionário do mundo digital costumava dizer que toda tecnologia revolucionária, quando vista pela primeira vez, parece mágica. Paradoxalmente, nas aventuras do bruxo infantil Harry Potter, os magos não conhecem computadores nem as tecnologias digitais da vida contemporânea. O universo da escritora inglesa J.K. Rowling pertence ao final do século passado, quando internet e celular não estavam tão disseminados como hoje. Talvez em parte por causa disso, para lançar o último volume da série Harry Potter, as editoras Bloomsbury, da Inglaterra, e Scholastic armaram uma operação de marketing também digna do século passado, baseada no suspense. E esqueceram o mundo digital. Como se ainda pudessem prender livros em caixas com palavras mágicas, marcaram para a meia-noite do sábado 21 de julho, horário de Londres, o lançamento de Harry Potter and the Deathly Hallows (Harry Potter e as Relíquias da Morte), sétimo e último volume da série. Aconteceu o previsível: o tão protegido e esperado final da saga de Harry Potter vazou por causa de um feitiço talvez mais poderoso que os ensinados pelos magos Dumbledore e Snape juntos: a internet. O passe de mágica atende pelo nome "BitTorrent". Trata-se de um popular programa de troca e compartilhamento de arquivos. Nele e em sites semelhantes, circularam na noite da segunda-feira 15 fotografias de 784 páginas da edição americana. Em algumas imagens, via-se a unha pintada de rosa de um polegar. Em poucos minutos, os desmancha-prazeres enchiam a blogosfera com respostas falsas e verdadeiras aos derradeiros mistérios sobre Harry em sua luta contra as trevas. Ambas as editoras não negaram nem confirmaram a veracidade da cópia, divulgada em primeira mão pelo site de ÉPOCA antes mesmo que jornais como o americano New York Times tivessem se dado conta. A Bloomsbury e a Scholastic anunciaram medidas legais contra os violadores dos direitos autorais. Ninguém sabe ainda quem é o autor das fotografias.A tiragem inicial de cerca de 20 milhões de exemplares - 2 milhões encomendados, tornando Deathly Hallows o maior best-seller do ano por antecipação - foi enviada para livrarias de todo o mundo, com o compromisso de abrir no horário combinado. Uma distribuidora americanas, Levy Home Entertainment, entregou centenas de exemplares encomendados. Um dos usuários deve ter fotografado o volume às pressas. Da câmera para a internet, passaram-se minutos.É pouco provável que a versão do BitTorrent seja forjada. Ao longo da narrativa, Harry empreende a Guerra de Hogwarts contra os Comensais da Morte, encabeçados pelo vilão Voldemort e, à medida que se desenrola a ação, todos os segredos são desvendados. Num duelo com Voldemort, o protagonista se vê à beira da morte. Então se descortina a surpresa final, prometida por J.K. Rowling. Como seria previsível na estrutura de um romance clássico, seguida por ela.É impraticável manter o sigilo depois que os textos migraram do papel para o mundo digitalCaso você queira evitar conhecer segredos antes de terminar o livro, salte este parágrafo. Eram quatro os enigmas que vinham sendo lançados aos leitores desde o início da série. Harry Potter consegue vencer o Lorde das Trevas Voldemort? Que personagens morreriam no último volume? De que lado estaria o professor Snape: seria um membro dos Comensais da Morte ou amigo dos bruxos do bem? E o destino de Ron e Hermione, amigos de Harry? Eis as respostas. Na batalha, Harry conta com a ajuda de magos mais poderosos, que matam Voldemort. Antes, porém, o Lorde das Trevas aniquila Snape, que, na verdade, era um espião infiltrado, a serviço do bruxo do bem, Dumbledore. No epílogo, 19 anos depois, Harry está com 37 anos, casado com a colega Gina e tem três filhos: James, Albus Severus (nome que homenageia Albus Dumbledore e Severus Snape) e Lily. James estuda na escola de bruxaria de Hogwarts. A família está na estação de King's Cross, para se despedir de Albus, que tomará o trem rumo a Hogwarts. Topa, então, com Hermione e Ron, casados e pais da menina Rose, que também vai embarcar. A cicatriz que Harry traz na testa desde bebê não dói mais. Os finais de livro são importantes, mas não essenciais. A saga pode ser lida como uma alegoria da formação da escritora. E de outras infinitas maneiras. A série de J.K. Rowling ficará na literatura infantil e de fantasia. E sua publicação traz outra lição, utilíssima nos dias de hoje: é impraticável manter o sigilo de um livro com milhões de cópias depois que os textos migraram do papel para o mundo digital. Em vez de processar os responsáveis pela violação de direitos, as editoras da obra poderiam ter pensado em um uso mais inteligente da internet. É assim que o cinema opera hoje. Filmes como Star Wars ou Homem-Aranha não guardam mistérios de trama, e sim sobre a forma como ela é narrada. Talvez esse projeto de sigilo tenha ruído pela própria concepção mercadológica de Harry.A série é um produto do século XX. Mesmo as crianças que se iniciaram na leitura com os livros cresceram e agora têm acesso à tecnologia. Hoje não há mais "trouxas" (muggles, desprovidos de dotes mágicos). Os "trouxas" de hoje possuem superpoderes digitais de fazer inveja aos antigos meninos de Hogwarts.
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