BOPE


Todo o dia estamos assistindo a destruição de todas as regras, instituições e valores que norteiam uma sociedade. O cidadão reage com uma perplexidade impotente e sente ruir os alicerces da família e dos seus dogmas. Nas guerras e nos conflitos justifica-se a morte evocando-se o nome de Deus e acho que lá em cima ele chora. A justiça criada como uma reguladora das regras sociais é chamada de criminosa pelos bandidos, mesmo depois de gravações que comprovam os acertos. Açougues de cidade do interior são transformados em frigoríficos para justificar a pensão de filhos de senadores bastardos, o filho não tem a menor culpa.

A morte que chega do nada transforma um assassinato em um mero acaso. Nós jornalistas deveríamos abolir dos noticiários o termo "Bala perdida". Quando drogados escondidos e acobertados por comunidades inocentes atiram, em direção à "sociedade perdida", cometem crimes hediondos e bárbaros, são imunes e impunes. Testam suas armas, através da beligerância inconseqüente contra indivíduos inocentes, e acertam normalmente a cabeça e tórax dos corpos que caem "perdidos" e agonizantes.

Na TV, filmados por câmaras escondidas, eles mostram seu arsenal e desfilam ao lado de crianças e mulheres que se transformam em seus escudos. Até hoje não ouvi nenhuma notícia de que algum daqueles marginais tenha morrido por bala perdida.

Estamos numa guerra, acho que não precisamos de nenhuma ordem judicial para autorizar os atiradores da polícia, legalmente constituídos, devidamente aparelhados para fotografar o bandido com a arma e atirar para matar em legítima defesa da sociedade.

Chegou à hora de contra atacarmos, no mínimo eles vão buscar suas trincheiras e terão um pouquinho do medo que eles provocam em todos nós. Aí sim poderemos considerar uma bala perdida ou uma perda de nossos padrões sociais.

Aí virão os abutres dos direitos humanos e rechaçarão a atitude, condenando a sociedade a uma subordinação aos marginais com a seguinte lógica – o cidadão não pode cometer crimes contra um ser humano, os marginais por já serem criminosos e desprovidos de qualquer sentimento humanitário, podem matar, seviciar, esquartejar, queimar jornalistas, arrastar crianças indefesas, mas quando presos terão que ser tratados como seres humanos, pelos mesmos que sofrem as mutilações e as perdas de vidas provocadas pela marginalia.

Não estou pregando uma solução simplista do olho por olho, dente por dente. Acho sim, que já está passando da hora de reagir.

Ao retratar a realidade vivida nos morros, nas favelas e nos subúrbios do Rio de Janeiro, o filme "Tropa de Elite" reascende a discussão sobre a corrupção policial, sobre os valores sociais encravados na classe média carioca e revela que a sustentação do crime organizado se encontra no seio da mesma sociedade que se diz desamparada e a invasão das nossas praias a ainda não aconteceu porque temos um "BOPE".


Os "fanfarrões", a quem o capitão Nascimento se refere, não são apenas os policiais corruptos, os alunos drogados e os flanelinhas assaltantes. A família é onde começa tudo. Na verdade as bofetadas e as torturas realizadas marcam cada pai e cada mãe, por que cada um daqueles desviados começaram no ventre e foram colocados na vida de forma bruta e inacabada. A provação que cada aspirante do Batalhão do Nascimento não garante o caráter de honestidade e retidão que se espera de um polícia.

Será que com um pai doente e uma família destruída pela violência o filho do Nascimento não vai ser mais um para alimentar essa guerra. Nossos filhos já estão considerando normal: levar vantagem em tudo, a lei do menor esforço para conseguir favores, a mentira, a contravenção, as drogas, os espancamentos. Já tem pai acreditando que incendiar um índio, roubar e bater covardemente em pessoas humildes não autoriza o Estado a tratar os filhos como criminosos. Talvez a sentença do Juiz, pai do assassino que matou o índio, teria sido de inocentá-lo, afinal ele filho de juiz.

Mas felizmente temos sinais que não erramos. Se está certo não sei, mas fiquei feliz quando o meu filho mais velho afirmou logo após assistir o filme: - acho que eu e muita gente vai querer entrar para o "BOPE". Pelo menos ele está do lado do bem e com a educação que ele recebeu podemos pensar que o filme serviu para mostrar um pouco das armadilhas que levam as pessoas a errar.

Ao contrário do esperado, os bons exemplos sempre emergem das camadas mais simples da população. No caso da mulher que foi espancada por quatro delinqüentes no Rio , mesmo com o corpo mutilado, a dor de um braço quebrado fez que com que aquela mãe não deixasse de falar para seu filho: Se fizermos o mesmo, seremos iguais a eles.

Adoro o Brasil e vejo que estamos vivendo um princípio de prosperidade. O Presidente brada com fervor a favor da democracia que nada mais é que um legado social. Mas que adianta crescer: sem uma estrutura social que possa sustentá-la no longo prazo; sem instituições que tenham credibilidade; sem a segurança que referenda o direito constitucional de ir e vir; sem os valores da família que assegura a continuidade da existência.

Vamos mexer com nossa cultura, criar manchetes positivas para motivar a toda sociedade para ações que levam o engrandecimento de todos. Vamos comemorar a alegria do brasileiro e valorizar o direito de viver.

Edílson Alcântara
Jornalista

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